2 estrelas da música portuguesa, 2 raparigas diferentes, 2 histórias semelhantes

Cp. 1 - Tudo o que você queria ouvir

Já tive uma paixão pelo Rui Reininho.
E nem sequer faz o meu género. Mas algo me levou a isso.
Sei que na altura não tinha dinheiro para quase nada, e esse CD dos GNR foi talvez o 2º CD que comprei, a seguir ao "Post" da Bjork. 5 contos na carteira, em Lisboa. CD duplo, e dos GNR, grupo português favorito de um rapaz mais velho por quem eu sentia admiração.

Cp. 2 - O meu Reininho por um Beijinho

Eu tinha as letras já quase todas decoradas quando os GNR foram cabeças de cartaz das festas da minha terra (no Verão do mesmo ano). Não percebia nada do que queria dizer aquilo. Ia percebendo, aos poucos, à medida que a minha ousadia ia permitindo. Ainda hoje se acabo de ouvir uma das músicas, os primeiros acordes da seguinte ressoam na minha memória.

Assumidamente tola, ingénua e parva, esperei pelo RR, à tarde, no teste de som, para lhe cravar uma assinatura no booklet. E aí ainda não era por paixão. Era pró-forma. Lá fui, assim com vergonha, mesmo à parvónia. Consciente do ridículo da situação mas decidida.Tinha 13 anos.

Ele sorriu, numa atitude que não entendi. E, o que me baralhou por completo: o Rui Reininho disse que assinava mas só se eu lhe desse um beijinho. Vocês se calhar não estão a ver mas isto para mim não fazia sentido nenhum. Ele é que era o máximo, eu é que lhe devia pedir um beijinho, porque isso teria valor era para mim, não para ele. Dei, claro, mas já com uma pontinha de culpa. Estava a dar algo de mim, que, por ter sido ele a pedir (e como pagamento) eu provavelmente deveria era ter guardado. É o princípio da sensualidade, coisa que eu não estava à espera quando fui lá pedir o autógrafo. Eu ia por infantilidade.

Depois disso e da camisa vermelha que ele usava no concerto e que se lhe colou ao corpo, encharcada, era um bocado difícil não pensar mais no cavalheiro. Com os anos, o puzzle das letras completou-se, percebi que o erotismo é a fibra do Reininho, e isso é que lhe dá voz e génio. Mas confesso que ainda hoje se ouço Hardcore, uma canção que só por ser em inglês é que não é a coisa mais porno da música portuguesa, dizia eu que quando ouço essa música ainda sinto um torvelinho de sensações: escândalo, desprezo, espanto, curiosidade. Mas ao mesmo tempo uma compreensão triste, só e decadente, uma volúpia estranha.
(A.R)

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Cp.1 - Cabeça rachada, óculos escuros vermelhos, gata das botas alcoolizada com capa de drácula


Foi assim que me apresentei para uma Festa Funeral Party na discoteca Metropolis. O meu chapéu tinha uma pluma amarela enorme que se enfiava nos olhos das pessoas que se chegavam junto a mim. Surgiu uma senhora gótica com um candelabro, fazia parte de um semi-show-erótico, disse-me com um sorriso para ter cuidado com a minha pluma não fosse ela queimar nas velas. Tive cuidado. Tenho tendência a acidentes e já me bastava ter um penso na cabeça - de a ter rachado há umas semanas atrás.
O show lá continuou e olhei fingindo interesse na dança sensual da rapariga. chegaram uns amigos meus e ao darem-me lume, queimaram-me acidentalmente os bigodes da minha mascarilha de gata. Uma amiga minha riu-se. Quiseram saber do que estava mascarada.Gata das botas, respondi, já muito bêbada. Para mim era óbvio mas quando me perguntaram onde é que estavam as botas disse que eram ténis-bota. A noite decorreu como muitas outras. Toda a gente se torna amiga nessas noites. Toda.

Cp.2 - Coração de Atum

No final da noite, as luzes acesas, o chão pegajoso de cerveja e outras coisas que tais. Copos de plástico no chão e em cima dos pilares. Beatas espalhadas por todo o lado. Havia fila para pagar e os habituees sentaram-se nos sofás à conversa. Deixei-me ficar nos sofás como de costume a falar com alguém que já não me recordo bem. Foi então que me disseram eish olha quem é que está ali. E lá olhei. Era ele em todo o seu esplendor, a pança bem assente no balcão e um copo de whiskey na mão.
Desafiaram-me a ir ter com ele para lhe dizer olá. Lá fui, dei-lhe um passóbem e tratei-o por Excelentíssimo Presidente Vieira e ele...ele disse "olha, uma gata" e lambeu-me a cara. Perguntou se eu gostava de atum, naturalmente disse-lhe que sim. Conseguia estar mais bêbado que eu. Limpei automaticamente a bochecha que estava toda lambida. Voltei a sentar-me, uma rapariga perguntou-me como é que tinha corrido, eu respondi-lhe "és muita linda".
(C.M)

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